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Nektar – “Time Machine”


Mesmo sempre tendo ficado às margens do rock progressivo mais popular durante a década de setenta, os ingleses (não germânicos) do Nektar mantém há mais de quatro décadas uma carreira praticamente contínua (apenas com um hiato durante a década de noventa – e vocês podem ouvir o Progcast sobre os primórdios da banda aqui), sempre liderada pelo vocalista e guitarrista Roye Albrighton.

Nektar

Mantendo a razoável sucessão de lançamentos desde o seu retorno em 2001, e agora acompanhados pela figura de Billy Sherwood, responsável por todo o trabalho de tratamento do som no seu Circa:HQ Studios, o grupo lança Time Machine, o primeiro de inéditas desde Book of Days, cinco anos atrás.

Iniciando a epopeia com uma faixa relativamente grande, A Better Way mostra ao longo de seus mais de nove minutos que apesar de todos os experimentos musicais de Roye Albrighton no Nektar durante sua existência, o esqueleto formado por suas características principais nunca se desfez por completo. E a maior prova está no singular senso de melodia e no desenvolvimento das faixas em Time Machine.

Set Me Free, Amigo, com seu acordeão simulado e um groove tipicamente latino, porém, parece saída de alguma pérola perdida dos anos oitenta, boa parte devido aos timbres e à produção de Sherwood (seus projetos sempre acabam tendo essa tendência), história que se repete na melódica Destiny e os seus ecos de bandas progressivas que lançaram seus derradeiros discos durante a década de noventa.

Estas duas faixas, por outro lado, soam apenas como pontes de ligação, já que If Only I Could resgata o espírito do rock progressivo do Nektar em seus primórdios, em sua fase mais megalomaníaca, com infinitas mudanças  e esbarrando em diversos estilos, desde interpretativos momentos space rock até longas passagens atmosféricas. E se não fosse o suficiente, a música que dá nome ao novo trabalho segue um direcionamento muito parecido, ainda que acrescido novamente daquele palpável sentimento oitentista, em especial ao quase downesco solo de teclado.

Como o próprio nome sugere, Tranquility é uma faixa mid-tempo extremamente serena e sem lá grandes novidades, enquanto Mocking the Moon tem um clima quase bucólico, em ritmo constante, quase como a trilha sonora de filmes que passam logo após o almoço. Talk To Me, logo em seguida, soa ainda mais simples e é notável pelo seu excelente solo de guitarra (como se fosse preciso ressaltar aqui as habilidades de Albrighton).

O nível da técnica se mantém na instrumental Juggernaut, que apesar de alguns interessantes detalhes, tem um quase irritante ritmo constante, de forma que é quase como voltar a respirar quando as primeiras notas de Diamond Eyes começam. E a faixa que encerra o disco é uma verdadeira peça de rock progressivo contemporâneo, unindo mais uma vez de forma natural riffs que remetem aos primeiros protótipos do que viria a ser o heavy metal, com compridos interlúdios etéreos espaciais: uma verdadeira viagem no tempo, direto para algum lugar em 1974.

Porém, o saldo de Time Machine ainda é um tanto quanto controverso: enquanto algumas faixas flutuam tranquilamente naquela atmosfera progressiva, que definiu o Nektar como um dos mais importantes nomes da era clássica (mesmo não tendo o mesmo reconhecimento de um Pink Floyd), em outras partes eles acabam por limitar algumas bordas, resultando em faixas que são boas, mas nada espetacular perto do nível de qualidade dos músicos envolvidos nessa obra e em relação a todo o legado. E isso acaba refletindo no fluxo do disco como um todo, que mesmo com épicas e memoráveis passagens, predominantes, acabam tendo o seu ritmo quebrado por outras que poderiam facilmente ter sido enxugadas.

A produção de Sherwood está, como sempre, equilibrada e focada no ritmo de cada faixa, e acaba por trazer alguns timbres mais limpos e aquele espírito anos oitenta sempre inerente ao seu estilo de trabalho. Ao mesmo tempo, é perceptível como a voz de Albrighton já não tem o mesmo alcance de outrora (algo natural, claro), e a sua performance mais contida mantém o tom mais tranquilo e constante do Nektar em sua nova fase.

Com ressalvas e oscilações, podemos ouvir aqui um material de qualidade, que mantém incólume a sua história, aonde é possível entender a sua intenção de trazer o seu som para um âmbito atual. E por mais que o resultado ainda não tenha sido perfeito e eles ainda parecerem estar presos a algumas coisas, é muito bom ver que a inspiração e a vontade ainda se mantém inesgotáveis.

Time Machine Nektar

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Tracklist

01. A Better Way
02. Set Me Free, Amigo
03. Destiny
04. If Only I Could
05. Time Machine
06. Tranquility
07. Mocking The Moon
08. Talk To Me
09. Juggernaut
10. Diamond Eyes

Lineup

Roye Albrighton – vocal / guitarra
Klaus Henatsch – teclado
Billy Sherwood – baixo / guitarra
Ron Howden – bateria
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

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