Progcast - Sua Dose Semanal de Rock Progressivo

Yezda Urfa – “Boris”


Depois de algum tempo sem explorar as empoeiradas estantes obscuras do rock progressivo, retomamos a coluna para abordar mais uma pérola perdida da década de 70.

O Yezda Urfa é uma banda americana formada em 1973, altamente influenciada por nomes como Yes e Gentle Giant, graças a utilização de inúmeros instrumentos que culminam em composições ecléticas, exageradamente técnicas (um pouco controversas) e com um pé no prog sinfônico. Apesar da qualidade musical, a banda gravou uma demo intitulada Boris, em 1975, com o objetivo de tentar atrair a atenção de alguma gravadora que se propusesse a financiar o seu debut. Porém, o cenário/mercado musical americano da época não parecia tão interessado na sonoridade do Yezda Urfa, de forma que as (raras) propostas recebidas estavam infinitamente aquém do que eles esperavam.

YezdaUrfa

Sendo assim, resolveram financiar o seu próprio disco de estreia, na época batizado de Sacred Baboon, em 1976, que acabou simplesmente esgotando todas as finanças da banda e levou-os a inúmeros adiamentos do lançamento oficial, e perdendo-se quando resolveram encerrar as atividades, cinco anos depois.

A banda só foi (re)descoberta em 1985, quando o seu disco demo chegou aos ouvidos de Greg Walker, da Syn-Phonic Records, que após negociar com a banda, lançou Sacred Baboon oficialmente em 1989, pela sua própria gravadora, criando um verdadeiro selo de cult para a banda, e principalmente para a demo Boris, considerada uma verdadeira obra perdida do progressivo americano setentista.

O que mais impressiona em Boris, logo de cara, é como a sua produção/mixagem é cristalina e perfeitamente equilibrada (por mais que você ouça o relançamento de 2004 – lembre-se, a versão original foi financiada pela própria banda e apenas 300 cópias foram devidamente prensadas), com cada instrumento em seu devido lugar e um excelente controle de canais. Fora essas questões técnicas, a qualidade musical espanta o ouvinte na abertura com a dupla Boris and His 3 Verses e Flow Guides Aren’t My Bag, em seu formato original, está no mesmo nível das maiores bandas do rock progressivo e sinfônico, que viviam o seu ápice na Inglaterra nessa época. As passagens cósmicas fornecidas pelas linhas de sintetizador, em meio às infinitas mudanças de andamento, servem como excelente base para os vocais carregados de emoção de Rick Rodenbaugh.

Após o interlúdio bluegrass de Texas Armadillo, a instrumental 3, Almost 4, 6 Yea transita de forma incomodamente natural entre aquele progressivo intrincado na linha de Emerson Lake & Palmer, jazz e saudáveis doses do folk inglês, principalmente pela marcante presença da flauta em diversos momentos. Os oito minutos de música passam de forma praticamente imperceptível, o mesmo ocorrendo em To-ta In The Moya, uma interessante mescla de ritmos complexos, um sintetizador digno de space rock, combinado com guitarra acústica. Não fosse bastante, ainda é possível identificar sutis toques de música tradicional americana e mais um pouco de folk rock.

Com o inusitado título de Three Tons Of Fresh Thyroid Glands, a faixa que encerra a demo original tem uma longa sessão instrumental altamente influenciada pelos mais técnicos grupos da época, evoluindo em seguida para algo que poderia facilmente ter saído de um disco do Yes contemporâneo a essa época, mas com uma excelente e bem encaixada dose extra de peso. O relançamento de 2004 contou com uma faixa bônus, The Basis Of Dubenglazy While Dirk Does The Dance, que assim como o próprio título, é uma complexa (bem confusa, na realidade) música, que alterna momentos de puro caos sonoro (fica a impressão de que cada músico está tocando uma coisa) com bonitas passagens pastorais e contemplativas, seções instrumentais viajantes, e uma série de outras indecifráveis.

Se isso é ruim? Evidentemente que não. Boris tem um nível musical em uma demo que muitas bandas consagradas do rock progressivo setentista não atingiram com décadas de carreira. Instrumental bem construído, letras paradoxais e espirituais como o estilo pede, inserção da influencia de seu próprio país. Tudo isso resulta em uma sonoridade única, que comprova o motivo de o Yezda Urfa ter adquirido o devido reconhecimento quando a sua obra foi lançada, e chega a ser impossível não imaginar que outros frutos teriam sido gerados se eles estivessem na Inglaterra durante a década de 70. Podemos concluir que talvez o único problema da banda, na realidade,  tenha sido um leve equívoco geográfico.

Boris Yezda Urfa

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Tracklist

01 Boris And His 3 Verses, including Flow Guides Aren't My Bag
02 Texas Armadillo
03 3, Almost 4, 6 Yea
04 Tuta In The Moya & Tyreczimmage
05 Three Tons Of Fresh Thyroid Glands

06 The Basis Of Dubenglazy While Dirk Does The Dance

Lineup

Rick Rodenbaugh - vocal
Brad Christoff - percussão
Phil Kimbrough - teclado / sintetizador / bandolim / instrumentos de sopro
Mark Tippins - guitarra / banjo / vocal
Marc Miller - baixo
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

Uma resposta para “Yezda Urfa – “Boris””

  1. wnavarrobr disse:

    Descobri um tempo atras Yezda Urfa e gosto muito, acho excelente, uma pena ter um trabalho tao curto e pouco conhecido

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