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Stratovarius – “Nemesis”


Um dos principais nomes do power metal e um dos responsáveis pela ascensão da popularidade do estilo na década de noventa, junto com as bandas alemãs, o Stratovarius sempre se diferenciou em alguns detalhes pela inserção de elementos progressivos e sinfônicos, influenciando (para o bem ou para o mal) toda uma nova geração. Apesar de ter chegado no ápice da saturação musical e psicológica, que culminou na saída de seu (completamente descontrolado) líder e principal compositor Timo Tolkki, os finlandeses tentam se restabelecer (interna e externamente) em um cenário aonde o power metal há muito não vê seus dias de glória.

Stratovarius

Depois do razoável Polaris, e do inexpressivo Elysium, a banda retorna com Nemesis,, décimo quarto disco de estúdio da carreira, e a estreia do jovem baterista Rolf Pilve, dando mais um passo na proposta de (tímida) renovação que eles vem seguido desde 2009. O álbum foi produzido pelo próprio guitarrista Matias Kupiainen e lançado pela gravadora alemã Edel AG.

Apesar de Abandon abrir o disco com uma bem intencionada dose extra de peso, paira ao longo de toda a música uma incômoda sensação de que ela soa de pouca vontade, sem a potência necessária para puxar o restante do álbum. Sim, estamos ouvindo a repetição da mesma fórmula, que depois de quase vinte anos, soa cansada e sem o impacto de outrora, necessitando de alguns ajustes e atualizações. E os finlandeses acertam em cheio com Unbreakable, faixa título do ep que antecedeu Nemesis, mantendo a clássica estrutura, de forma que aos quinze segundos iniciais você já sabe a pegajosa melodia do refrão, e ainda assim injetando um sentimento renovado, que faltou, e muito, nos álbuns anteriores. O nível mantém-se com a épica Stand My Ground, que remete diretamente às músicas mais cadenciadas e etéreas, principalmente da fase Elements, enquanto Halcyon Days, uma das melhores faixas compostas pela dupla Kupiainen / Kotipelto até agora, traz bons elementos eletrônicos, tirando um pouco do marasmo de timbres repetitivos.

Com uma letra bem apelativa (e com boas doses do power metal dos anos 90), a mezzo-balada Fantasy não chega nem perto de ser algo genial ou exatamente interessante, mas é daquelas canções facilmente absorvidas nos moldes típicos do pop finlandês. Out Of The Fog vai por um caminho um pouco diferente, possivelmente devido à colaboração de Jani Liimatainen, ex-guitarrista do Sonata Arctica na composição, já que em diversos momentos acaba lembrando, ainda que vagamente à eles (apesar de Tony Kakko monopolizar o processo criativo por lá). As faixas seguintes são de autoria do tecladista Jens Johansson, e exatamente por isso não fogem muito dos padrões da identidade construída pelo Stratovarius, de forma que Castles in The Air lembra bastante o auge do estilo, quase quinze anos atrás, e Dragons poderia muito bem ter estado no disco Polaris.

One Must Fall, em seguida, acaba desmoronando no mesmo problema da primeira música, que apesar de algumas boas ideias, principalmente no que se refere ao teclado e à seção instrumental tipicamente Pink Floyd (exagerando bastante aqui) fica facilmente como dispensável no álbum. Mais uma colaboração de Liimatainen em Nemesis, a faixa If The Story Is Over é uma belíssima balada, com sutis inserções de folk que a torna bem agradável, sem deixar cair para o melodrama exagerado típico. A faixa título encerra o disco, com quase sete minutos de duração e serve como um resumo inacabado sobre o que os finlandeses trouxeram de “novo” em 2013, e peca um pouco por não ter a mesma qualidade criativa de outras faixas do álbum e tampouco força suficiente para encerrá-lo.

Contudo, o saldo final é declaradamente positivo: o Stratovarius não vai revolucionar o power metal, e muito menos a música, mas conseguem se reerguer consideravelmente e começar a se realinhar nos eixos após todos os problemas extra-musicais pelos quais passaram na última década, desde a confusão com Timo Tolkki. Eles mantém-se com os dois pés cravados fortemente na vertente que ajudaram a desenvolver e popularizar, mas aparentemente estão abrindo os olhos para o que acontece ao redor, ainda que de forma um pouco tímida, por ora. Não é um disco perfeito, mas nostálgico na medida certa, e mesmo com alguns deslizes agrada facilmente quem tem se desapontado com as bandas de power metal recentemente.

Nemesis Stratovarius

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Tracklist

01. Abandon
02. Unbreakable
03. Stand My Ground
04. Halcyon Days
05. Fantasy
06. Out Of The Fog
07. Castles In The Air
08. Dragons
09. One Must Fall
10. If The Story Is Over
11. Nemesis

Lineup

Timo Kotipelto - vocal
Jens Johansson - teclado
Lauri Porra - baixo
Matias Kupiainen - guitarra
Rolf Pilve
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

Uma resposta para “Stratovarius – “Nemesis””

  1. brunobruno2 disse:

    Não tem jeito. O metal melódico (ou como gostam de chamar, Power Metal) não tem pra onde correr. Assim como o Metalcore, é um caminho sem volta, não tem mais o que criar. Mas, o Stratovarius me surpreendeu neste lançamento, depois do tímido Elysium, conseguiram lançar algo bem maduro, cativante e independente do legado que o Tolkki havia deixado na banda e que demorou pra deixarem de lado no Polaris e o Elysium.Eu penso que uma das coisas que mais impedem do Stratovarius soar diferente, é a (forte) presença do Jens Johansson. Não desmerecendo o cara, é um músico impecável e um dos pioneiros na clássica linha dos teclados de metal melódico, mas de todos os integrantes atuais, parece ser o que mais se prende a clássica fórmula.A entrada do Rolf Pilve, que é um baita baterista, praticamente um Andeas Kisser da Finlândia (pelo fato do cara ter tocado em umas 20 bandas/projetos), deu um novo ar pra cozinha do Stratovarius, uma linha mais pesada e bem mais interessante do que a pegada já conhecida do Jorg Michael (que também é um grande baterista, but…).Vale citar que o Stratovarius é uma banda Finlandesa, e por mais que lá chova bandas, não necessariamente é necessário ser diferente/original para se destacar, por isso os caras estão na zona de conforto e parece estar mais do que bom. O bolso da gravadora agradece.Bom, de qualquer forma, “Nemesis” é provavelmente o álbum que mais ouvi em 2013, achei bacana de ponta a ponta, mas reconheço que se um ouvinte que não conhece (e admira) o legado do Stratovarius, vai ser um lançamento totalmente indiferente.

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