Progcast - Sua Dose Semanal de Rock Progressivo

Sigur Rós – “Valtari”


O Sigur Rós é uma banda islandesa que em poucos anos de carreira conseguiu encontrar o seu nicho musical e montar a sua base de fãs que vai muito além dos amantes do Post Rock. Não a toa, é o grupo de maior sucesso do estilo e os seus álbuns atingem marcas de vendas impressionantes, apesar da sua música bem longe do que pode ser encarado como comercial.

“Valtari” é o sexto álbum do Sigur Rós e foi gravado em um período conturbado, em que eles quase não finalizaram o álbum por não acharem que estavam no caminho certo. Mas ao definir a proposta final de soar um pouco mais cru, com mais elementos eletrônicos, a banda retomou o foco e conseguiu reformular e completar o trabalho. O disco foi lançado no final do mês de Maio e atingiu os charts em basicamente todos os países, feito notável para qualquer um.

“Ég Anda” abre o disco e assim como o título sugere (seria algo como “Eu respiro” em português), a faixa é um crescendo absurdo e muito bem construído, do mais absoluto silêncio até partes de instrumental consideravelmente animado (dentro do padrão Sigur Rós, claro), e já mostrando a proposta da banda para esse álbum: predominância de efeitos eletrônicos, sons distorcidos, um pouco mais sujos e até beirando o psicodélico em alguns momentos. “Ekki Múkk” é a única faixa em que eles se utilizam do Vonlenska, espécie de “idioma” que esses islandeses usam em alguns momentos para fazer algumas melodias utilizando a voz, sem cantar exatamente palavras ou de alguma forma inteligível. E exatamente pelo uso dessas vozes é que a música consegue se tornar inacreditavelmente assustadora, como se estivéssemos ouvindo alguma fita cassete perdida há muito tempo.

Essa sensação se prolonga em “Varúð”, que apesar de bem bonita e etérea (lembra muito o Anathema – ou talvez o Anathema tenha sido influenciado por eles) tem uma base de ruídos e arranjos dissonantes que causam certa estranheza, assim como os infinitos efeitos sonoros de “Rembihnútur” (a música parece vibrar, literalmente), faixa que flerta bastante com o Pop inglês, por mais inimaginável que isso seja considerando a atmosfera catastrófica que eles adotaram aqui. Falando em Pop, aliás, a estrutura e melodias de “Dauðalogn” lembram incomodamente o Coldplay em uma versão mais experimental (mais do que o último disco… bem mais), e culmina em duas instrumentais: a belíssima “Varðeldur” e a esquisitíssima e angustiante “Valtari”, basicamente dois lados completamente diferentes da mesma moeda. Não bastasse, o disco fecha com “Fjögur Píanó”, mais uma faixa aonde eles apostam forte em várias camadas de ruídos e texturas sonoras distorcidas, e rendeu um vídeo com participação do ator Shia LaBeouf (sim, aquele do Transformers) na série The Valtari Mystery Film Experiment, em que a banda deu uma certa quantia de dinheiro para vários produtores independentes fazerem vídeos para cada uma das músicas.

Não que ser animado seja uma das características do Sigur Rós, mas o nível de perturbação musical que eles conseguem fazer em “Valtari” é digno de nota, muito acima de qualquer um dos álbuns anteriores (e quem conhece a discografia deles sabe que isso é algo significante), graças a produção muito mais crua, abafada, rasgada e estranhamente caótica. Definitivamente não é uma música que pode ser considerada como razoavelmente agradável e ao contrário dos álbuns anteriores, não consegue soar relaxante, mas acaba hipnotizando o ouvinte ao longo das faixas e deixando-o flutuando na sonoridade esquisita do álbum. E vejam bem, isso não é completamente algo negativo.

Valtari Sigur Rós

123

Tracklist

01. Ég Anda
02. Ekki Múkk
03. Varúð
04. Rembihnútur
05. Dauðalogn
06. Varðeldur
07. Valtari
08. Fjögur Píanó

Lineup

Jón Þór Birgisson – Vocal / Guitarra / Arco / Teclado / Gaita / Banjo / Baixo
Georg Hólm – Baixo / Glockenspiel / Piano de brinquedo (?) / Teclado
Kjartan Sveinsson – Sintetizador / Teclado / Piano / Órgão / Programações / Guitarra / Flautas / Oboé / Banjo
Orri Páll Dýrason – Bateria / Percussão / Teclado
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *