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Queensrÿche – “Queensrÿche”


Toda a novela envolvendo o Queensrÿche gerou boas polêmicas e momentos que beiram o hilário, não fosse a tragédia que quase arruinou o legado de um dos pilares do metal progressivo norte americano. Todos os problemas dos últimos meses só terão um verdadeiro desfecho em novembro, quando os ex-companheiros de banda ficarão frente a frente perante a justiça para determinar quem, de fato, poderá continuar com o nome nos próximos trabalhos.

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Nesse meio tempo, Geoff Tate quis dar uma de apressadinho e lançou o decepcionante e horroroso Frequency Unknown (cuja resenha pode ser lida aqui), no qual nem o próprio line up, com grandes nomes do hard rock e heavy metal, conseguiu salvá-lo de se tornar uma das piores piadas da história do progressivo.

O restante da banda, porém, recrutou o ex-vocalista do Crimson Glory, Todd La Torre, para formar a outra versão do Queensrÿche, e mais timidamente, lançou recentemente, também pela Century Media Records, um disco que leva o seu próprio nome, resgatando algumas das características primordiais de um estilo que eles mesmo ajudaram a construir, quase três décadas atrás.

Após a introdução feita com X2, Where Dreams Go To Die traz um Queensrÿche muito mais próximo ao som que pode ser considerado como o “clássico” da banda, que une o heavy metal em seus moldes mais cadenciados, com toques de hard rock, aor e rock progressivo (embora esse último esteja bem sutil, aqui). Apesar de a voz de Todd LaTorre apresentar certas similaridades com a do próprio Geoff Tate, ele se mostra bem mais confortável no que diz respeito aos tons mais altos e na interpretação vocal, que se não fogem do comum esperado, se encaixam perfeitamente com as estruturas das faixas.

Com apenas um inesperado riff, Spore dá continuidade ao álbum, sem sair da obviedade da música anterior, mas novamente cumprindo o seu papel graças às boas melodias, assim como In This Light, uma mezzo-balada que vem logo em seguida, carregada com outra letra que invariavelmente pode ser relacionada à situação da banda nesse momento. Redemption retoma a agressividade, com passagens que chegam a lembrar o Savatage em seu período transacional entre Jon Oliva e Zak Stevens, enquanto Vindication soa como uma esquisita versão mais prog metal do Iron Maiden dos últimos álbuns, com bizarra escolha de timbres e mudanças de andamento.

Midnight Lullaby é um descartável interlúdio para criar a atmosfera da arrastada A World Without, aonde os arranjos orquestrais definitivamente se sobressaem (aliás, eles se mostram um elemento importante por todo o trabalho). Seguindo novamente pelos caminhos entre o heavy metal e o hard rock, Don’t Look Back se revela um destaque imediato no álbum, por mais direta e despretensiosa que soe à primeira impressão, o mesmo ocorrendo com a reta e curtíssima Fallout. O encerramento do disco fica a cargo de Open Road, uma grandiosa faixa, dotada daquele típico sentimento épico, comum aos álbuns do estilo (e por mais que não seja surpreendente, o resultado é ótimo).

E o que pode ser conferido em Queensrÿche é exatamente isso: uma banda retomando aos poucos o controle, buscando dentro da sua própria obra as influências que foram sendo deixadas um pouco de lado com o passar dos anos. E justamente em sua sonoridade primordial, o trio Michael Wilton, Scott Rockenfield e Eddie Jackson, encontra o porto essencialmente seguro para recolocar o grupo nos eixos, depois do caos dos últimos meses (e dos últimos anos, se formos um pouco mais longe). Com o apoio do guitarrista Parker Lundgren e do novo vocalista Todd La Torre, é possível ouvir uma banda menos pressionada, mais livre, que por mais que não traga nada de novo, parece confortável em compor despretensiosamente.

Talvez por conta de todos os problemas extra musicais, seja impossível não comparar esse álbum com Frequency Unknown, do Queensrÿche liderado por Geoff Tate. E sendo bem curto e sincero, não há comparações em termos de produção, composição e linhas de pensamento entre as duas obras – e evidentemente, o álbum lançado pelo vocalista é infinitamente inferior.

Novamente, o Queensrÿche com Todd La Torre não é, nem de longe, genial, perfeito ou algo do tipo. Porém, as faixas são excelentemente escritas, bem pensadas e desenvolvidas, com um senso de coletividade e simplicidade, que definitivamente vinha faltando na banda nos últimos álbuns. E talvez seja aí é que esteja a grande diferença.

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Tracklist

01. X2
02. Where Dreams Go To Die
03. Spore
04. In This Light
05. Redemption
06. Vindication
07. Midnight Lullaby
08. A World Without
09. Don’t Look back
10. Fallout
11. Open Road

Lineup

Todd La Torre – vocal
Michael Wilton – guitarra
Parker Lundgren – guitarra
Eddie Jackson – baixo
Scott Rockenfield – bateria / teclado
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

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