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Pain Of Salvation – “Road Salt Two [Ebony]”


Quando o Pain Of Salvation lançou “Road Salt One: Ivory”, alguns fãs mais desavisados e que não acompanhavam constantemente a carreira da banda tomaram um susto, já que o álbum se diferia em muito tanto do megalomaníaco “BE” quanto do mais recente “Scarsick”, contando com composições fortemente influenciado por estilos até então nada ou muito pouco explorados pela banda, e comparativamente muito mais leve, fugindo um pouco até do rótulo Metal e ficando cada vez mais Rock, simplesmente.

E como já havia sido anunciado, a segunda parte intitulada “Road Salt Two: Ebony” foi lançada dia 26 de setembro via InsideOut Music e era um dos álbuns mais aguardados no cenário Progressivo nesse ano. A própria capa dava a entender que o álbum teria um sentimento ainda mais obscuro do que a parte um, e ficava a dúvida sobre qual seria a maluquice que Gildenlöw faria dessa vez.

A introdução instrumental-orquestrada de “Road Salt Theme” (que deveria ter sido a primeira do Road Salt One, certo? Mas não, Daniel resolveu colocá-la aqui) dá início a “Softly She Cries”, uma música pesada que continua exatamente do ponto aonde RS1 parou, em um momento mais soturno, sombrio, com melodias mais arrastadas e ainda mantendo o pé nos anos 70 da primeira parte. A próxima música já havia sido previamente liberada, “Conditioned”, com a forte influência de Blues e Boogie Rock, com as já características mudanças bruscas de andamento do Pain Of Salvation, uma presença possivelmente garantida nos sets ao vivo. Em seguida, a belíssima balada “Healing Now”, com a sua ótima letra, é de longe uma das mais simples e melhores músicas já compostas por Gildenlow, mostrando mais uma vez que não precisa ser exageradamente grandioso para ter qualidade. “To The Shoreline” carrega de volta para as bandas européias obscuras de Prog Rock dos anos 70, uma música mais ambiente e com aquelas típicas letras em que você vai lendo e conseguindo imaginar a cena toda, como um filme. O único problema é que a música é deveras curta e poderia ter sido desenvolvida mais, assim como “Eleven”, com seus quase 7 minutos de pura viagem, uma música ao mesmo tempo esquisitíssima e hipnótica que lá pela sua metade muda quase que completamente, virando um improviso jazzístico, que se não é o ápice da complexidade, funciona muito bem (destaque para Léo Margarit, aliás, que insere umas levadas e viradas geniais).

“1979”, conduzida completamente pelo piano e pela flauta, com a sua letra completamente saudosa e uma levada de bateria eletrônica muito bem encaixada. Novamente uma música mais simples, direta e curta sendo um dos destaques do álbum. Em seguida, “The Deeper Cut” aposta na interpretação bem exagerada e desesperadora de Daniel (no bom sentido), algo compreensível quando você vê a letra, o mesmo acontecendo com “Mortar Grind”, música já lançada no EP “Linoleum”, uma música que mostra o lado ainda mais mórbido do Pain Of Salvation, aonde tanto a guitarra quanto os efeitos do teclado criam uma ambientação quase desagradável, negativa, mas muito boa de se ouvir, e que encaixam perfeitamente com o conceito. A exemplo de “1979”, “Through The Distance” também traz um sentimento meio nostálgico sobre um instrumental que poderia ter sido tirado novamente de alguma banda obscura, daquelas que lançam apenas um álbum e acabam, dos anos 70. E fechando o álbum, vem um dos momentos mais inusitados e bizarros dos Road Salt’s: “The Physics Of Gridlock”. São quase nove minutos aonde a banda desfila influências que exploram a fundo o Rock Progressivo, coisas que eles mesmo já fizeram nos álbuns anteriores, mas aqui focando no lado mais sinistro do negócio.

Enquanto sobe o instrumental “End Credits”, podemos concluir que esse álbum é possivelmente o mais complexo de ser absorvido, fazendo frente ao “BE” (musicalmente falando, não conceitualmente), e requer várias e várias ouvidas, acompanhando as letras para entender o que está acontecendo em cada passagem. As músicas são mais soturnas, sombrias, com um clima pesadíssimo na maior parte do tempo, ou seja, não é algo a se ouvir enquanto faz qualquer outra coisa. O Pain Of Salvation parece ter usado do Road Salt 1 e 2 para explorar algumas sonoridades que eles nunca haviam tentado antes, possivelmente idéias que já estavam embrionadas mas nunca puderam ser encaixadas em nenhum outro disco. Com “Road Salt Two”, eles conseguiram mergulhar muito mais fundo nas influências obscuras dos anos 60 e 70 que a banda carrega, dificilmente identificáveis, mas perfeitamente agregadas ao som já característico da banda. Há de se destacar aqui o trabalho de Léo Margarit, que trouxe diferenciais consideráveis nas levadas de bateria, e os vocais de Daniel Gildenlow, que soam ainda mais versáteis mesmo com alguns efeitos por cima.

Agora é só esperar pelas pistas do que virá pela frente, pois depois dessa guinada de graus indefinidos, os próximos lançamentos são um grande ponto de interrogação.

Road Salt Two [Ebony] Pain Of Salvation

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Tracklist

01. Road Salt Theme
02. Softly She Cries
03. Conditioned
04. Healing Now
05. To The Shoreline
06. Eleven
07. 1979
08. The Deeper Cut
09. Mortar Grind
10. Through The Distance
11. The Physics Of Gridlock
12. End Credits

Lineup

Daniel Gildenlöw – Vocal / Guitarra / Baixo
Fredrik Hermansson – Teclado / Piano / Mellotron
Johan Hallgren – Guitarra
Léo Margarit – Bateria
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

Uma resposta para “Pain Of Salvation – “Road Salt Two [Ebony]””

  1. Luccas Camilo disse:

    Linda resenha. Pessoalmente falando, fiquei decepcionado com Road Salt One e cheguei a achar que o Pain of Salvation nunca mais faria um trabalho genial e intenso quanto no passado. Nunca fiquei tao feliz de ter errado algo na vida *-*

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