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Moonspell – “Alpha Noir / Omega White”


A banda lusitana de maior projeção mundial, o Moonspell sempre apostou em uma sonoridade densa, melancólica, independente dos experimentos musicais que fizeram ao longo da carreira (que não foram poucos), indo do mais extremo e sujo Black Metal ao mais sombrio Gothic Rock. Porém, com foi com o álbum “Memorial”, de 2006, que os portugueses finalmente atingiram o sucesso comercial e definiram de uma vez por todas o seu som característico, que transita naturalmente entre o Black, Death, Gothic e Doom Metal.

Quatro anos depois do seu último registro, o grupo retorna com “Alpha Noir / Omega White”, o nono álbum da carreira, duplo e reexplorando as mais diversas influencias do Moonspell. Ou seja, o que eles já fizeram ao longo da carreira resumido em apenas um grandioso trabalho.

“Axis Mundi” abre o primeiro disco com riffs muito próximos ao andamento do Thrash Metal oitentista, em meio à atmosfera soturna e melancólica característica do Moonspell, e graças às inteligentes mudanças de andamento e uma das melhores interpretações de Fernando Ribeiro, consegue transportar o ouvinte para o trabalho de forma magnífica. O primeiro single do álbum, “Lickanthrope” vem em seguida trazendo boas influências do Metal extremo americano e do lado mais melódico do Black Metal, enquanto “Versus” soa como uma versão mais pesada e agressiva do Gothic Metal tipicamente finlandês (evidentemente, adaptado às características dos portugueses). E por falar na própria identidade deles, a faixa título “Alpha Noir” consegue reunir as várias facetas exploradas nos seus últimos álbuns, do extremo ao melódico de forma natural.

“Em Nome do Medo” segue uma linha mais soturna e cadenciada, e mesmo cantada em português não soa deslocada dentro do álbum (a letra foi muito bem pensada e encaixou perfeitamente, aliás), enquanto “Opera Carne” tem um clima épico muito parecido com o que o Rotting Christ fez nos seus últimos trabalhos. “Love Is Blasphemy” une em uma música mais uma boa dose de Gothic Metal com Heavy Metal tradicional, de forma espantosamente equilibrada, que a torna mais um grande destaque desse primeiro disco, que se encerra com “Grandstand” (outra faixa sem muitas novidades – o que não significa que seja ruim, é apenas no campo de sonoridades que o Moonspell já explorou anteriormente) e a instrumental “Sine Missione”, praticamente uma trilha sonora que faz a ponte perfeita com o segundo disco, “Omega White”, pois consegue transferir o ouvinte da imersão que ele estava e já jogar na atmosfera do que está por vir.

E espantosa é a diferença: do Black/Death/Gothic de “Alpha Noir” não sobra basicamente nada, pois a partir de “Whiteomega” os portugueses apostam em uma sonoridade altamente influenciada pelo Gothic Rock e por bandas como Sisters Of Mercy, Type O Negative e congêneros, com um instrumental mais simples e direto, aonde as camadas de teclado continuam desempenhando um papel importantíssimo, mas de forma completamente diferente do primeiro disco. “White Skies”, outro single do trabalho vem em seguida e mergulha completamente na década de 80, com direito a participação de vocais femininos fazendo um excelente contraste com a voz de Ribeiro, enquanto “Fireseason” segue uma linha um pouco mais épica, novamente graças ao trabalho orquestral e a guitarra acústica. Voltando a sonoridade oitentista, “New Tears Eve”, além do ótimo título é uma das faixas mais bonitas já escritas pelo Moonspell, mesmo com uma estrutura sem muitas novidades.

O que dizer também da clara influência de Paradise Lost em “Herodisiac”? Mais um destaque imediato do álbum, assim como “Incantatrix”, praticamente impossível não pensar que essa música foi escrita há 25, 30 anos atrás. “Sacrificial”, por outro lado, é um prato cheio pra quem acompanhou a explosão de bandas finlandesas durante a década de 90, tamanha a semelhança com aquela sonoridade, levando ao encerramento da obra com “A Greater Darkness”, um épico Gothic/Doom de mais de sete minutos com um crescendo instrumental e lírico digno de nota e possivelmente a melhor faixa nos discos.

Terminada a audição, o que se pode concluir é que “Alpha Noir” e “Omega White” em nenhum momento devem ser encaradas como dois trabalhos distintos ou diferentes. Muito pelo contrário, são complementares entre si, cujo resultado de um depende do outro. Se o primeiro traz o lado mais agressivo e carregado do Moonspell, o segundo faz o perfeito equilíbrio com a parte sentimental e leve. Separados, cada disco não seria exatamente excelente, porém, ao analisado como um só, é possível ver como o Moonspell atingiu a sua maturidade musical não apenas em um estilo, mas criando uma identidade que vai muito além de meramente copiar as suas influências.

Alpha Noir / Omega White Moonspell

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Tracklist

Alpha Noir

01. Axis Mundi
02. Lickanthrope
03. Versus
04. Alpha Noir
05. Em Nome Do Medo
06. Opera Carne
07. Love Is Blasphemy
08. Grandstand
09. Sine Missione

Omega White

01. Whiteomega
02. White Skies
03. Fireseason
04. New Tears Eve
05. Herodisiac
06. Incantatrix
07. Sacrificial
08. A Greater Darkness

Lineup

Fernando Ribeiro – Vocal
Ricardo Amorim – Guitarra
Pedro Paixão – Guitarra / Teclado
Aires Pereira – Baixo
Miguel Gaspar – Bateria
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

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