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Lou Reed and Metallica – “Lulu”


Agora que o frisson do lançamento de “Lulu” parece ter passado, podemos ver com olhos menos fanáticos o projeto colaborativo entre o músico Lou Reed (Velvet Underground) e os caras do Metallica. Acredito que a essa altura do campeonato, não precisamos mais contar a história sobre como essa reunião aconteceu, certo? Então vamos direto ao álbum.

Acordes sem ritmo iniciam “Brandenburg Gate”, com Reed recitando os versos, lembrando muito o início musical de algum filme obscuro europeu, dando passagem para um riff cadenciado aonde James Hetfield apenas canta repetidamente ao fundo enquanto Lou Reed continua contando a sua história (porém, a sua voz falha em diversos momentos – isso porque ele nem está “cantando” propriamente dito -, o que atrapalha um pouco a sua audição). “The View”, a primeira música liberada traz uma versão mais mórbida do Metallica fase “Reload”, que teria um resultado um pouco mais interessante se saísse da repetição nem que por alguns segundos. Em todo caso, ela é um dos poucos momentos do álbum que consegue funcionar sozinha. Arranjos de cordas iniciam a ótima “Pumping Blood”, um dos instrumentais mais bem construídos e com ótimas passagens ambientais, caminhando junto com a própria letra, a qual Reed faz questão de não incluir emoção alguma, tirando todo o brilho que ela poderia ter, enquanto “Mistress Dead” basicamente é um mesmo riff (o mais rápido do disco e mais… Thrashy) repetido durante seis minutos, nos quais lá pela metade você já fica com a mão no queixo e pensando qual o sentido de ela existir. “Iced Honey”, em seguida, é o que mais se aproxima de algo que as pessoas podem assimilar mais facilmente, com um riff tipicamente Metallica fase Loads e uma das únicas músicas em “Lulu” propriamente cantadas, um Hard Rock mórbido e bem interessante. O primeiro disco encerra com “Cheat On Me”, uma música mais atmosférica, praticamente um lento e arrastado crescendo de 11 minutos que faz a ligação entre as duas partes do trabalho. Porém, além de estruturalmente importante, ela não traz nenhum atrativo real e tampouco alguma parte memorável.

Aos que não estão entendendo praticamente nada do álbum até esse momento, é aconselhável não colocar o segundo disco para rodar ainda. Tire um tempo, tome uma água, faça outra coisa qualquer antes de voltar para o outro lado de “Lulu”.

Ok, voltemos então…

Um rádio fora de sintonia fazem a introdução de “Frustration”, cujas passagens instrumentais lembram incomodamente as partes mais cadenciadas de “St Anger” e as diversas passagens são as que obtém o melhor resultado do disco no quesito teatral, onde tanto as partes líricas quanto musicais se encaixam perfeitamente. “Little Dog” em seguida, uma espécie de “balada atmosférica” traz várias notas e sons jogados a esmo que funcionam muito bem até a metade, ao ponto de se tornarem quase insuportáveis depois, pecando mais uma vez pelo excesso e por uma quase vontade forçada de soar diferente. E por falar em excesso, sons tipicamente espaciais ditam o tom inicial de “Dragon” durante um terço da música, até mudar de forma brusca para um riff tipicamente Metallica, que se repete incessantemente. Seria justificável se as letras acrescentassem alguma coisa, mas é apenas a mesma repetição de idéias por vários minutos. O disco encerra com a tão falada “Junior Dad”, uma belíssima e hipnótica balada, que encaixa realmente bem com o encerramento de uma peça ou de um filme, mas musicalmente falando peca um pouco por não ter um clímax propriamente dito, mas ainda assim um dos grandes momentos do álbum ao lado de “Frustration”.

E enquanto os quase 9 minutos de violinos ao final de “Junior Dad” fazem o seu trabalho, vamos às considerações:

– O disco não é nem um álbum do Metallica e tampouco de Lou Reed. É importantíssimo ter isso em mente ao ouvi-lo: é um projeto com Lou Reed, James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammet e Rob Trujillo. Apenas isso;

– Também é bom esquecer todas aquelas palhaçadas comparando “Lulu” a trabalhos anteriores tanto do Metallica quanto de Reed;

– Não é um trabalho simples: as músicas são gigantescas, repetitivas, e sem a devida atenção você pode passar reto por várias delas. Parar apenas para ouvir o cd, prestando atenção às letras e cada passagem pode trazer resultados diferentes;

– Sim, Lou Reed não canta, ele apenas vai lendo, na maior parte do tempo sem emoção alguma. A participação de James Hetfield é esporádica e acrescenta muito pouco;

– Aliás, podemos entender que os músicos aqui envolvidos queiram tentar alguma coisa ou experiência nova. Porém, não vejo o que “Lulu” tem a acrescentar para a carreira de algum dos envolvidos;

– A maioria das músicas não funcionam por si só e fora de contexto, e o trabalho no geral, apenas como música é um tanto quanto vazio, como se os outros sentidos (visão, principalmente) gritassem por mais pistas sobre o que é isso que a audição está recebendo;

– É inovador? Sim, possivelmente. Na verdade é uma grande colcha de retalhos com idéias jogadas a esmo, que se feita por um artista menor ou desconhecido seria considerado maluquice, e possivelmente execrado por aqueles que ouvissem;

– E não é porque é inovador que é bom e deve ser endeusado. As vezes uma formula simples e bem feita tem resultados muito mais satisfatórios;

– E encerrando, por favor, se vocês não tem nada a acrescentar além de argumentos fecais de true headbangers como “esse disco é uma merd*… não sei porque o Metallica perde tempo com isso” ou de vanguardistas pseudo-cultos “esse disco é uma obra prima e se você não gostou é porque você não sabe o que é música de verdade”, nem se manifestem. Cada um que ouça o que quiser, o gosto musical (assim como qualquer outra coisa) não torna uma pessoa superior a outra.

Particularmente, além de alguns momentos (como citei ali em cima) durante a uma hora e meia de duração, “Lulu” não é algo que me soa agradável e com um apelo para que eu pare mais vezes para ouvir e prestar atenção a cada momento. Aos meus ouvidos falta ritmo, ao passo que algumas coisas são forçadamente excessivas, tentando fugir do óbvio tanto que no fim das contas não funcionam.

01. Brandenburg Gate
02. The View
03. Pumping Blood
04. Mistress Dread
05. Iced Honey
06. Cheat On Me
07. Frustration
08. Little Dog
09. Dragon
10. Junior Dad

Line-up:

Lou Reed – Vocal / Guitarra
James Hetfields – Vocal / Guitarra
Kirk Hammet – Guitarra
Rob Trujillo – Baixo
Lars Ulrich – Bateria
Sarth Calhoun – Efeitos eletrônicos
Jenny Scheinman – Violino / Viola
Megan Gould – Violino
Ron Lawrence – Viola
Marika Hughes – Violoncelo
Ulrich Maas – Violoncelo
Rob Wasserman – Baixo
Jessica Troy – Viola

Nota 3

Lulu Lou Reed and Metallica

Tracklist

Lineup

Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

Uma resposta para “Lou Reed and Metallica – “Lulu””

  1. Minea Nunes disse:

    Eu só consegui dar algum valor para a Junior Dad mesmo, o resto do CD me deixou agoniada, não curti mesmo. Talvez eu ouça novamente algum dia só pra relembrar as letras (que fui lendo enquanto ouvi) mas acho que irá demorar bastante pois têm muitas coisas legais sendo lançadas e bem mais trabalhadas que esse projeto fail aí. ^^

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