Progcast - Sua Dose Semanal de Rock Progressivo

Galeria dos sonhos


O principal ícone do triunvirato responsável pela 1ª geração do Prog Metal (junto com Queensryche e Fates Warning), o Dream Theater definitivamente era o mais progressivo na sua essência, resgatando muito da sonoridade setentista, principalmente na complexidade melódica, estrutural e conceitual de suas obras, aliado ao peso e a noção de contemporaneidade no seu som, tornando-os uma das mais cultuadas e bem-sucedidas bandas do Heavy Metal atual, conseguindo uma quantidade incrível de fãs (MUITO fanáticos, mas eu nem queria falar sobre isso). Mas enfim, uma das características que mais chamam a atenção são os background de sua música, desde o tema lírico abordado como as capas/artes gráficas dos álbuns, que remetem às idéias muito bem expressas de 20, 30, 40 anos atrás, e, tudo é tão pensado e encaixado que esses trabalhos são elemento à parte e deve ser bem analisada, afinal, nada mais progressivo do que cada detalhe ser importante, ahn? Bom, vamos lá:

1989 – When Day And Dream Unite

Ok, digamos que o começo não é nada promissor. Sinceramente, não deve existir NENHUM sentido por trás dessa imagem que possa justificar ato tão bisonho.  A foto de um sujeito aparentemente dormindo (e NU!), com um fundo rosa/roxo, ninguém merece. Pode ser que o intuito da banda fosse gastar todas as suas economias com bons estúdios ou a qualidade da gravação, mas, pelo amor de deus, uma idéia mais bem desenvolvida poderia ter saído mais barato e teria um resultado final bem mais interessante. Lembrando que nessa época a fonte do logo não é como a dos álbuns subseqüentes, mas já continha o famoso logo da banda, herança desde a época do Majesty, e, esse é o único álbum sem James LaBrie, pois o vocalista até então era Charles Dominici (que lançou alguns trabalhos recentemente). Talvez explique (em partes, claro) o fracasso acionômico que o álbum teve na época do seu lançamento.

1992 – Images And Words

A explosão do Dream Theater para o mundo, já com LaBrie nos vocais e uma musicalidade mais madura, o álbum é rechado de clássicos, como as já imortais “Pull Me Under”, “Metropolis Part I”, “Another Day” e “Under A Glass Moon”, justificando ser o álbum mais vendido da carreira da banda. Na capa, já com o seu famoso logo, podemos ver pela primeira vez o famoso ícone do coração, que viria a aparecer em outros trabalhos. O nome do álbum é um trecho da música “Wait For Sleep”, o que talvez possa explicar o fato de a imagem da capa ser uma pessoa em um quarto, com o coração em chamas flutuando ao seu lado. Parece uma verdadeira obra de arte, com uma certa influencia barroca, cheia de detalhes e pomposidades.

1994 – Awake

Apesar de um tema batido, a imagem de Awake representa o paradoxo, onde através de um espelho, há um outro mundo, que é o inverso do seu (neste caso, um homem velho, em um cenário preto e branco e vazio, olha para um outro mundo, desértico, meio colorido, onde um jovem o olha). A contra capa do álbum também apresenta um espelho, com a foto da banda, explicando a presença da música “Mirrors”, ao lado de outros grandes clássicos como a conturbada “Erotomania” e a baladinha “The Silent Man”. O clima mais dark e soturno que a banda assumiu em sua sonoridade deve se valer do fato da realidade extra-musical que ela vivia, com toda a pressão por um novo álbum que faça sucesso como o anterior, a posterior saída de Kevin Moore e os problemas de intoxicação alimentar de James LaBrie (que dizem as más línguas, estragou a sua voz para sempre). Na capa, podemos identificar alguns elementos, que são títulos ou partes das letras do álbum: a Lua é um relógio marcando 6 horas(“6:00”), uma teia de aranha (“Caught In A Web”) pode ser encontrada no espelho (“Mirror”), que reflete uma falsa imagem da velha estátua (“Lie”), sendo que esse reflexo com cores é parte do vídeo de “The Silent Man”, assim como o céu estrelado e a paisagem manchada pela cidade/indústria podem ser menções a “Space-Dye Vest” e “Scarred”, respectivamente

1995 – A Change Of Seasons

Considerado um EP pelos membros da banda, chega a ser meio estranho, afinal de contas, ele é mais longo que os dois primeiros álbuns do próprio Dream Theater (vai entender….) e é o primeiro a ter o lendário Derek Sherinian nos teclados. A faixa título é uma peça de mais de 20 minutos, escrita por Mike Portnoy, tratando da morte da sua mãe, um bonito conceito representado por um garoto solitário, perdido, na neve (o símbolo aparece no baldinho), com uma rosa ao lado, como se alguém tivesse acabado de ser enterrado ali. O resto do álbum traz vários covers e medleys gravados ao vivo.

1997 – Falling Into Infinity

Após o sucesso comercial de Awake, a banda pretendia mudar um pouco os seus rumos musicais e lançar “Falling Into Infinity” como um álbum duplo de 140 minutos (imagine o que seria, ahn?), mas por pressão da própria gravadora Eastwest, o resultado final foi um pouco mais comercial do que a vontade dos membros, o que desagradou não apenas a eles, mas à crítica e aos fãs (particularmente, não acho de todo ruim). O impacto sobre a banda desse disco foi tão grande, que foi o último que eles gravaram com um produtor externo. A capa, “desenhada” por Storm Thorgeson é a única além do debut a não ter o logo com a fonte clássica do Dream Theater (por uma frescura fod* imposição do designer gráfico), e, ironicamente, é a capa mais “vintage”, por assim, dizer, de toda a discografia, remetendo um pouco aos trabalhos dos anos 70. A imagem representada como se estivesse sendo vista por um binóculo, mostra duas pessoas no meio do oceano, se olhando com o mesmo objeto. Mas fica aí a dúvida, qual a relação com o nome do álbum?

1999 – Metropolis Pt 2: Scenes From A Memory

Talvez o ápice criativo da banda, esse álbum é a continuação da música presente no álbum Images And Words (“Metropolis Pt 1: The Miracle and The Sleeper”) e conta a história de Nicholas, um homem em busca do seu passado e é uma trama cheia de dramas e plots, mas o básico a ser dito por ora é isso: as memórias são o personagem principal. Estreando o grande Jordan Rudess nos teclados, a banda teve total autonomia para a composição deste álbum, e talvez o conforto tenha sido o principal influenciador para o resultado. A capa representa muito bem o conceito do disco, com as várias imagens formando uma cabeça humana, como se o próprio indivíduo e a mente fossem resultado de experiências e conhecimentos acumulados com o passar do tempo. Um fator interessante é que essa mesma capa, desenhada por Dave McKean, foi usada por Neil Gaiman em uma das revistas da cultuada série de quadrinhos Sandman (a minha favorita EVER, diga-se de passagem), e foi capa da edição especial do arco “Vidas Breves”, lançado aqui no Brasil pela maldita Conrad. Outro fator importante é que a turnê deste álbum teve um álbum ao vivo sob o nome de “Live Scenes From New York”, cuja capa foi censurada pelo simples fato de trazer as torres gêmeas do World Trade Center pegando fogo e (pasmem), ter sido lançado em 11 de setembro de 2001. E aí, sinistro, heim?

2002 – Six Degrees Of Inner Turbulence

O álbum duplo do Dream Theater trazia a sua maior música, a faixa-título com 42 minutos de duração (que ocupa o disco 2 inteiro) e conta a história de seis indivíduos, cada um com um distúrbio mental diferente (a saber, Bipolaridade, Estresse pós-traumático, Esquizofrenia, Autismo, Depressão pós-parto e Desordem de personalidade dissociativa) e, cada uma representando uma “turbulência interna” e demonstrando as várias influencias que eles agregaram nesse álbum. A capa, desenhada por Dung Hoang, basicamente não tem uma imagem marcante, mas talvez a confusão de manchas possa ser uma representação do desequilíbrio mental, focando o nome do álbum (que aparece MUITO maior do que o logo da banda).

2003 – Train Of Thought

Alavancado pelo sucesso das músicas mais pesadas e, até mesmo pelo estilo em alta na época (New Metal), a banda lança aquele que é considerado o seu álbum mais “brutal”, chegando a ser tão soturno quanto “Awake”, refletindo inclusive nas letras, e acabou dividindo a opinião dos fãs, principalmente entre os que apreciavam mais a parte Prog da banda, e não a Metal. Como se estivsse saindo de um túnel, com corvos passando e um olho enigmaticamente saindo do chão, criando a base perfeita par mostrar aos fãs o direcionamento mais dark do álbum.

2005 – Octavarium

Talvez o mais enigmático e cheio de eastereggs dos álbuns do Dream Theater (seja nas ilustrações, nas letras, na construção da estrutura musical), sendo algo tão complexo que deve ser analisado em separado. A imagem da capa, com aquele objeto típico de consultório médico é uma representação mais do que icônica do conceito por trás de Octavarium: Tudo começa onde termina. É uma das minhas capas favoritas por mostrar aquele objeto metálico gigante, em meio a uma paisagem completamente verde, em um céu límpido, um tanto quanto paradoxal.

2007 – Systematic Chaos

9º álbum da carreira da banda, no período de lançamento “Systematic Chaos” conseguiu demonstrar o quão popular a banda estava perante a crítica e os fãs, atingindo vários bons charts, estabelecendo um nível de qualidade musical que conseguiu se repetir do álbum anterior, influenciado principalmente pelo bom relacionamento dentro do grupo. A arte do álbum reflete os opostos tratados no título: formigas gigantes (representação máxima da organização) caminhando por entre uma cidade caótica, cheia de estruturas, muito bem pensada a idéia.

2009 – Black Clouds & Silver Linings

Como pode ser identificado na própria sonoridade do álbum, a arte do 10º álbum de estúdio da banda tem um clima mais carregado, soturno e até uma ou outra pitada de Gothic, aliado aos próprios temas líricos utilizados por Petrucci e Portnoy. Na capa do álbum, podemos entrar várias referências aos próprios conceitos abordados: o garotinho saindo da escuridão, em direção a luz (A Rite Of Passage e A Nightmare To Remember), uma garrafa quebrada (The Shattered Fortress, a parte final sobre alcoolismo iniciado em “Six Degrees Of Inner Turbulance”), um quadro com o símbolo do “Olho que tudo vê” (A Rite Of Passage), um elefante equilibrado sobre livros, com um pincel na tromba (talvez uma referencia a The Count Of Tuscany, já que essa região é famosa pelas artes e pelo conhecimento), um rato branco e um corvo negro, que eu não consegui achar o significado ainda.

Bom, por ora é isso. Sugestões, críticas, correções, deixem nos comentários!

Bons sonhos, crianças

Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

4 respostas para “Galeria dos sonhos”

  1. Andrew disse:

    Grande matéria, gostei muito! A arte do Octavarium é a melhor.
    E só pra perguntar, onde está o logo da banda no Train Of Thought?

  2. Andrew disse:

    Ahh saquei! Eu tava vendo mesmo uma imagem no olho lá mas tava em dúvida se era mesmo o logo.
    Valeu por esclarecer!

  3. Bruno Borja disse:

    Matéria muito boa. Sintetizar Dream Theater não deve ser fácil.

    "Vidas Breves" é de 1994, lançada fora do Brasil 5 anos antes de "Scenes from a memory". A capa do CD que foi a cópia intencional. E a capa do bootleg oficial do making off contém exatamente a mesma figura da obra de Neil Gaiman. Esse cd foi também baseado no filme "Voltar a morrer" (dead again), dentre outros filmes. Devo admitir que, se tratando de programação visual e na parte conceitual, foi mais o ápice da miscelânea em cópias de obras relacionadas a regressão, estudo dos sonhos, projeciologia e espiritualismo em geral do que criatividade. A banda deixou várias pistas para os estudiosos no tema. Um dos meus álbuns preferidos.

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