Progcast - Sua Dose Semanal de Rock Progressivo

As artes reais do Rei Rubro


Um dos alicerces da gênese do Rock Progressivo, talvez o King Crimson tenha sido uma das mais experimentais e influentes (até os dias de hoje) bandas surgidas no final dos anos 60. Robert Fripp, figura importantíssima do estilo, conseguiu agregar ao longo do tempo influencias que iam do Jazz ao Eletrônico, passando por Drum’n’bass, Hard Rock, New Age, elementos psicodélicos e experimentais, e, inclusive, um embrião (ainda que disforme) do que seria o Heavy Metal uma década mais tarde. A extensa discografia da banda, peculiarmente tem mais álbuns ao vivo do que de estúdio (vai entender…), sendo 25 apresentações gravadas contra “apenas” 13 de estúdio, além de 3 EPs, 8 coletâneas e 14 Singles, sem considerar os infinitos projetos paralelos e álbuns solo entre as idas e vindas da banda nesses 40 anos de carreira.

1969 – In The Court Of The Crimson King

Considerados pelos especialistas um dos maiores e mais influentes álbuns de todos os tempos, o debut do King Crimson alcançou altos charts nas paradas inglesas e americanas, sendo o principal divisor de águas do Rock britânico, desvencilhando um pouco das influências do Blues Rock e mergulhando fundo nas maluquices do Jazz e da música clássica, além do conceito de músicas longas divididas em várias seções, cada uma com um título. A icônica capa é da autoria de Barry Godber (diz a lenda que á sua ÚNICA obra), e segundo o próprio Fripp, representa o Rei Rubro (Crimson King), trazendo um paradoxo entre o sorriso sádico e o olhar triste na imagem. Particularmente, acho que a expressão na capa reflete mais um grande desespero estampado na cara do personagem do que tristeza ou alegria. Lembrando que esse álbum tem um dos clássicos absolutos do Prog Rock: 21st Century Schizoid Man.

1970 – In The Wake Of Poseidon

Mantendo a mesma linha musical, o segundo álbum da banda teve uma das primeiras (das muitas) trocas de formação da banda, com a saída do famoso Greg Lake (de qual banda, heim?), ainda que o mesmo tenha cantado como contratado em algumas músicas. Novamente uma pintura comprada, a capa do álbum é “The 12 Archetypes Of The 12 Faces Of Mankind” (“Os 12 Arquétipos das 12 Faces da Humanidade”), da autoria de Tammo De Jongh, sendo que cada um dos rostos tem um significado, com relação à combinação dos elementos, bem como uma interpretação de cada figura:

– O Louco (representando o Fogo e a Água, um homem de barba dando risada – a loucura);
– A Atriz (representando a Água e o Fogo, uma garota egípcia com enfeites de pérolas chorando – a tentativa de se esconder sobre uma máscara);
– O Observador (representa o Ar e a Terra, um homem velho, calvo, na posição do pensador – a reflexão)
– A Mulher Velha (representa a Terra e o Ar – o tempo)
– O Guerreiro (um homem com um elmo e barba negra, representa o Fogo e a Terra – a força)
– O Escravo (representa a Terra e o Fogo, um negro com brincos nas orelhas e nariz, uma expressão amigável – o vigor)
– A Criança (a Água e o Ar, uma garota sorrindo – a inocência)
–  O Patriarca (representa o Ar e a Água, um velho de longos cabelos e barba branca – a sabedoria)
–  O Lógico (Ar e Fogo, uma espécie de mago, com cabelo e barba negra, segurando um cajado – a magia)
– O Coringa (representando Fogo e Ar, um palhaço – a alegria)
– A Encantada (Água e Terra, uma jovem triste, de cabelos castanhos – a tristeza)
– A Mãe Terra (Terra e Água, uma silhueta deitada na grama – a terra)

Só mais uma curiosidade sobre esse álbum, prá deixar maluco babando, o vocalista cogitado para gravar as linhas de voz era um até então desconhecido ELTON JOHN. Bizarro, heim?

1970 – Lizard

Segundo álbum lançado no mesmo ano (cara, que época fod*), é o álbum com maior influência jazzística do grupo, unindo aí várias passagens de música folk/medieval (meio Wishbone Ash, não?), gerando uma espécie de nuance tipicamente festiva, como músicas de circo. (Corrigindo: Eu havia dito que o álbum tinha influências de soul/Motown, bom, isso foi um bullshit sem precedentes, hehe. Hora que eu estava escrevendo sobre a história do álbum, me embananei com algumas informações e escrevi coisa errada. A ligação com o soul é que Gordon Haskell, baixista e vocalista nessa época, era um grande apreciador do estilo da Motown, entrando em divergência com a linha musical adotada pelo King Crimson, culminando na sua saída antes da turnê) A arte gráfica da capa corresponde a duas partes: o verso, onde está escrito “King” e a frente, com “Crimson”. Cada letra está ornamentada naquele estilo gótico/medieval, com imagens representando partes da letra de “Lizard” (uma suíte de 23 minutos, que ocupam todo o lado B do disco), na frente, e imagens medievais e contemporâneas no verso.

1971 – Islands

Quarto álbum do King Crimson, é o último com elementos tipicamente progressivos e, ao mesmo tempo, traziam umas letras um pouco mais sacanas e temas mais mundanos, em músicas um pouco mais curtas e diretas (calcule o “curtas”, elas tem em torno de 10 minutos cada uma). A capa do álbum foi lançada em dois formatos diferentes, nos EUA com uma pintura feita pelo próprio Peter Sinfield, com ilhotas coloridas e a Européia/Britânica com a foto da Nebulosa Trífida, na constelação de Sagitário, dividida em 3 grandes “ilhas”. O motivo real de ter utilizado essa imagem pode ser outro, mas no fim das contas, é bonita, de alguma forma.

1973 – Lark’s Tongues In Aspic

Considerado o debut da terceira encarnação do King Crimson, apenas Robert Fripp permaneceu da formação original, agregando aí membros provenientes de outras bandas de progressivo da época, entre eles, o baterista Bill Bruford, ex-Yes. O álbum volta a sua orientação um pouco mais soul-jazz, mas o desenvolvimento da música os elevou a um novo patamar, que flertava em vários momentos com o Heavy Metal (mas heim?). A capa é definitivamente bem tosca, mas acaba se encaixando na própria temática que é a banda. O Sol e a Lua unidos, com uma arte a lá livros medievais.

1974 – Starless and Bible Black

Mais socialmente influenciado, é praticamente uma continuação do álbum anterior, com eltras mais ácidas e críticas a sociedade e a indústria musical (tema meio recorrente na época, principalmente entre as bandas de Prog). Detalhe importante deste álbum é que apenas duas músicas foram gravadas em estúdio, sendo o resto oriundo de apresentações ao vivo, que foram editadas (jams instrumentais intermináveis). O título do álbum é uma referência a peça “Under Milk Wood”, de Dylan Thomas e a capa do álbum, simplória, foi feita por Tom Phillips, autor da série “A Humument” (consegui pouca ou nenhuma informação sobre isso, se alguém puder esclarecer, agradecemos)

1974 – Red

Este é o último álbum antes da hibernação temporária que percorreu o restante da década de 70. Nesse período a banda já começou a flertar com o Hard Rock e até mesmo o Grunge, ainda que mantendo a sua essência Progressiva. Sucesso de crítica e apreciado pelos fãs (Kurt Cobain citava o álbum como uma de suas maiores influências), infelizmente o álbum foi uma falha horrível na questão comercial, alcançando baixos charts ingleses. Com relação a capa, nem tem o que falar, além de que é HORROROSA. Uma foto da banda, meio U2… ARGH!

1981 – Discipline

O retorno do King Crimson trouxe como maior influencia o New Age (músicas com nuances instrumentais e instrumentos étnicos, criando ambientes típicos daquelas mensagens de PowerPoint), agregada ao estilo meio dark, influenciado pelo Post-Punk e até o Heavy Metal, que a banda vinha fazendo antes do hiato de 7 anos. Liricamente falando, este talvez seja um dos álbuns mais interessantes e cheios de referenciam, idéias malucas oriundas da criatividade de Robert Fripp. A capa, simplista, parece ter sido incontavelmente “copiada” com o passar dos anos (em alguns segundos, podemos lembrar-nos de várias capas que tem o nome da banda e um símbolo circular logo abaixo (Disturbed, Edguy, Crematory, Dimmu Borgir, e por aí vai). Não sei exatamente qual o significado, mas o símbolo é de origem Celta (a banda inclusive tomou algumas enrabadas por causa de copyrights dessa imagem), e no verso tem uma mensagem: “A disciplina não termina por si só, mas é um modo de se chegar ao fim”.

1982 – Beat

Precisamos realmente considerar a profundidade dessa capa?

1984 – Three Of A Perfect Pair

Seguindo a tendência de “Beat”, as músicas nesse álbum foram divididas em duas partes: a primeira, mais direta e simples (e até mesmo bem comercial) e a outra, composta por Robert Fripp, era basicamente uma continuidade do som de “Discipline”, sendo essa a entrada oficial da banda nos anos 80. A arte do cd remete aos trabalhos do próprio Yes nesse período, com cores berrantes e uns desenhos aparentemente sem sentido. Assim como o anterior, nem tem muito o que falar. Alguém tem a mínima noção do que esses riscos significam? O título do álbum refere-se a 3 pontos de vista de uma mesma história. Por enquanto, não consigo ver nenhuma relação com a imagem.

1995 – Thrak

11 anos depois do último release de estúdio, Robert Fripp e a sua turma retornam com “Thrak”. Nesse período, havia muito pouco ou quase nada do antigo King Crimson (nem da década de 70 e muito menos da de 80). Os vários instrumentos estavam lá, mas a banda estava realmente se modernizando, modificando e adequando o seu som: As músicas são mais diretas, com pequenas passagens/interlúdios entre elas. A capa é bem Prog Metal, uma tinta descascando de uma parede? Muito legal, principalmente por não ter NADA a ver com as duas últimas capas.

2000 – The ConstruKtion Of Light

Procurei, procurei e procurei… Mas até agora não achei nenhum significado especial para essa capa. Alguém sabe algo a respeito?

2003 – The Power To Believe

O seminal álbum do King Crimson, além da tentativa de resgate da sonoridade setentista, traz a capa alusória aos primeiros trabalhos (inclusive, os traços e estilo de pintura lembram em muito o de “In The Court Of The Crimson King”). Os elementos trazem uma criança, aparentemente protegida por soldados (ou procurada por eles) enquanto a mãe ou uma médica cuida dele. Irônico é que a criança é a única sem a máscara para respirar, talvez morando aí a esperança, ainda mais se considerarmos o clima caótico que se apresenta no background da imagem, talvez uma guerra bioquímica, que tanto assustou a humanidade no começo do século XXI.

Bom, é isso. O King Crimson atualmente está “on hold”, então ficamos no aguardo prá ver até onde vai mais essa férias de Robert Fripp.

Espero que tenham gostado. Sugestões, críticas, comentários, correções, deixem nos comentários.

Bons sonhos, crianças.

Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

5 respostas para “As artes reais do Rei Rubro”

  1. Andrew disse:

    Ótimo início para essa sessão!
    Excelente artigo mesmo. Curiosa a arte do album "Red" que é ridícula, porém o conteúdo é totalmente inverso, é uma obra-prima este album!

    • Rhamses disse:

      Faltou ali no Red uma mão do Peter Seinfield né? Mas "Red" é um dos meus albuns preferidos da primeira fase, de longe. A do último album é boa tambem, é sempre bom voltar para as origens, fechou o ciclo da banda com chave de ouro. (se é que não voltam de novo heheheh)

  2. KCarão disse:

    Eu gosto da capa do Red.
    Agora o que eu não entendi foi essa história de "influências soul", "Motown"…
    Cara, me diz onde tá isso, que eu juro que não percebi…
    Nem muito menos essa música de circo no Lizard.
    A única "música de circo" que vi nesse disco é a música "Cirkus", que de circense não tem nada.
    Por sinal, "Cirkus", com aquele clima ultra-pesado, depressivo, realmente desesperado, é uma de minhas favoritas do KC.
    Valeu!

    • Rroio disse:

      Cara, na verdade foi um erro meu ao escrever sobre o álbum. Vou te dizer que cheguei a rir quando li, pois nem tinha me tocado dessa parte.

      Corrigi o post, com a observação correta, certo?

      Valeu pela informação!

  3. Carlos André disse:

    Gostaria que alguém me esclarecesse o significado do sinal de mão do Rei Rubro do disco In The Court Of The Crimson King, capa interna?

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