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Entrevista: o Ænigma progressivo do In Vain


O In Vain é um dos ascendentes nomes da música extrema atual, e ao longo da discografia vem criando uma identidade única, indo muito além do black metal convencional, trazendo elementos de death, folk e rock progressivo. Em 2013 eles estão lançando Ænigma, o seu terceiro trabalho de estúdio e um registro essencial do metal extremo este ano. Conversamos um pouco com o guitarrista Johnar Haaland e o baterista Stig Reinhardtsen, sobre a trajetória da banda, a relação com o Solefald e vários detalhes sobre cada um de seus álbuns.

In Vain

Progcast: Olá Johnar. Antes de mais nada, agradecemos pela entrevista. Você poderia nos contar um pouco sobre o trabalho do In Vain, principalmente com relação ao período de formação da banda até o lançamento dos EPs Will the Sun Ever Rise? e Wounds?

Johnar: O In Vain na realidade começou como um projeto escolar. Em 2003, eu era um estudante de música, e em uma das aulas todos tinham de gravar uma faixa no próprio estúdio da escola. Achei que seria interessante tentar uma música de heavy metal, com alguns riffs que já havia escrito. Gravei então a guitarra e o baixo, programei a bateria, e convidei o meu amigo de longa data, Andreas, para cantar. A primeira faixa que fizemos foi As I Wither, na qual Sindre também participa, nos vocais, e tivemos um bom feedback de amigos e conhecidos, levando-nos a alugar um estúdio durante todo o verão, o que acabou resultando nas faixas do nosso EP de estreia, Will The Sun Ever Rise, de 2004. No verão seguinte, retornamos para o mesmo estúdio, e no outono já tínhamos em mãos o que veio a ser o segundo EP, Wounds. Então, na realidade um projeto de escola foi o embrião do In Vain como conhecemos hoje.

Progcast: Enquanto o primeiro EP soa um tanto quanto mais agressivo (apesar da veia melódica bem diferente do comummente encontrado em outras bandas extremas), o segundo soa um pouco mais técnico e dinâmico, de forma que em ambos os trabalhos já ouvimos uma banda tentando uma sonoridade diferente. Sendo assim, quais são as suas inspirações e influências? Aliás, a banda é categorizada como progressive black metal, há alguma banda de rock ou metal progressivo que vocês costumam ouvir?

Johnar: Quando eu escrevi as músicas de Will The Sun Ever Rise?, eu estava ouvindo basicamente todos os tipos de música. Porém, no que se trata de metal, eu particularmente estava ouvindo muito metal extremo. Acredito que podemos ouvir traços de bandas como Zyklon, Myrkskog e Sirius no nosso primeiro trabalho. Pouco antes de Wounds, eu descobri o Opeth, então acho que você pode ouvir algo deles nas músicas desse EP.

Atualmente, continuo ouvindo todas vertentes, do mais extremo ao mais tranqüilo, seja metal ou hip-hop. E na minha opinião existem apenas dois tipos de música: a boa e a ruim. A minha única exigência, além de composições de qualidade, é que ela tenha algum tipo de originalidade, a sua própria identidade. Sendo assim, entre as minhas bandas favoritas, eu tenho de citar Opeth, Extol, Emperor e In The Woods…

Progcast: Wounds recebeu ótimas críticas na época de seu lançamento, e logo depois o In Vain assinou com a Indie Recordings, certo? E durante o ano de 2006, vocês gravaram o que viria a ser o primeiro full length, The Latter Rain. Como foi o processo de composição e gravação?

 Stig: Nesse primeiro álbum, nós fizemos uma combinação entre os dois primeiros EPs, com algumas faixas novas. Tivemos vários convidados especiais, incluindo alguns vocalistas, como o Kjetil Nordhus (Green Carnation, Tristania) e o Jan Kenneth (In The Woods…, soXpan).

Johnar: Nós recebemos uma proposta da Indie Recordings em 2005, logo após o lançamento do Wounds. Lembro que ficamos um bom tempo refletindo sobre isso, antes de aceitar. Ou seja, sobrou muito pouco tempo para nos prepararmos para a gravação do álbum, o que deveria ocorrer no início de 2006. Somado a isso, as músicas dos nossos EPs não haviam atingido um público tão grande, então decidimos regravar algumas de suas faixas.

O processo de composição das novas músicas foram um tanto quanto tensas, pelo que eu me lembre, pois elas precisavam ficar prontas a tempo das sessões de gravação. No fim das contas, não fizemos nenhuma pré-produção e sequer ensaiamos antes de entrar em estúdio, então eu não estava muito certo sobre como as músicas ficariam depois de prontas. Acabamos decidindo por utilizar todo o material que gravamos.

Progcast: The Latter Rain foi lançado em 2007 e seguido por uma turnê, incluindo a presença em alguns festivais. Como foi a recepção do público e da crítica sobre o álbum e as apresentações?

Stig: Nessa época, não havia muita gente que conhecia a nossa música ou mesmo havia ouvido falar da banda. Com relação à turnê, nós fizemos o primeiro show em Antwerp, na Bélgica, na páscoa de 2007, e o álbum só foi lançado em maio. Pensando aqui, os nossos shows hoje tem uma presença muito diferente daquele tempo, mas de qualquer forma, foi uma boa turnê e uma experiência muito boa para nós, incluindo as boas resenhas sobre o álbum.

Johnar: Como o Stig disse, a turnê aconteceu antes do lançamento do álbum – o quão estranho é isso… Depois do lançamento, nós fizemos apenas dois shows na Noruega, e eu me arrependo hoje de não ter feito um trabalho melhor promovendo-o, se considerarmos que era algo realmente interessante e diferente, na época em que foi lançado.

Progcast: Após a turnê, não demorou muito até o In Vain entrar em estúdio, novamente. Mas aparentemente, o processo de gravação de Mantra terminou apenas no final de 2009, correto? Isso foi intencional? Houve diferenças entre a gravação de The Latter Rain e o segundo disco?

Stig: Muitas coisas contribuíram para esse atraso, nós trocamos de guitarrista e o nosso selo estava reorganizando todo o seu negócio.

Johnar: A razão principal foi a reorganização da gravadora, o que deixou todos os lançamentos parados por mais ou menos seis meses. Começamos a gravação durante o verão de 2008, mas o processo de produção também acabou atrasando. Como o Stig mencionou, nós trocamos de guitarrista, o que me fez ter que gravar todas as partes de guitarra, e quando o Kjetil se juntou a nós, ele regravou todos os solos, além de adicionar outros. Além disso, tivemos alguns problemas com o produtor, e as coisas não estavam funcionando exatamente como deveriam.

Progcast: Mantra parece ter um direcionamento mais melódico, com mais elementos de progressivo e death metal do que anteriormente. Vocês intencionalmente estavam tentando novas possibilidades ou foi um processo natural?

Johnar: Eu acho que Mantra tem uma aura mais soturna e progressiva, se comparado com o anterior. Nessa época, eu estava ouvindo muito doom metal, e por isso temos algumas canções bem arrastadas no álbum. Alguns dizem que é o menos acessível dos nossos trabalhos, mas na realidade é um disco mais diversificado e variado, aonde basicamente levamos as coisas para um próximo nível – em todas as direções. De fato, foi um processo bem natural.

Progcast: A propósito, gostaríamos realmente de ouvir algumas palavras sobre On The Banks of Mississippi. É uma faixa realmente intrigante…

Johnar: Eu definitivamente não a categorizaria como heavy metal!  É uma música triste, pesada e atmosférica, com um tom ao mesmo tempo sombrio e esperançoso (assim como nas letras). Eu estava viajando por New Orleans durante o verão de 2007 e tive essa ideia de uma letra sobre três destinos diferentes, conectados pelo rio – não são baseadas em histórias reais, mas com certeza poderiam. No final, ela ainda traz uma mensagem positiva: “Lance suas tristezas ao vento, e permaneça por um momento / Não as deixe lhe derrubarem”.

Progcast: Sobre a divulgação de Mantra, como foi a resposta para o álbum? Foi seguida por uma turnê? Aparentemente o In Vain foi ficando mais conhecido após esse disco.

Stig: A reação foi ótima! É sempre complicado lançar o segundo álbum, pois eventualmente ele será comparado com o primeiro. Mas acredito que ele é tão diferente do The Latter Rain que é bem complicado compará-los. Nós fizemos uma pequena turnê europeia com uma banda britânica chamada My Silent Wake, além de ter tocado em alguns festivais. Então, eu diria que fizemos um trabalho de divulgação melhor do que fizemos para o antecessor.

Progcast: Isso nos leva ao novo álbum, Ænigma, que acabou de ser lançado em 2013. O que vocês podem nos dizer sobre o nome do álbum? Podemos visualizar um conceito comum nas letras?

Stig: O título na realidade reflete os panoramas musicais e líricos do In Vain – ambos deixam o ouvinte ao mesmo tempo intrigado e maravilhado. Estávamos procurando um título curto e simples, e achamos que Ænigma se encaixava muito bem. De um lado, a nossa música pode ser dinâmica e difícil de absorver, enquanto nossas letras geralmente abordam temas filosóficos. A existência humana e o mundo em que vivemos constantemente nos fornecem novas questões para refletirmos dia após dia. Porém, não há um conceito único em todas as letras.

Progcast: Com relação à composição e produção, houve mudanças com relação aos álbuns anteriores…

Johnar: Exatamente! Em Ænigma nós fizemos uma pré-produção pela primeira vez, algo que não foi possível nos anteriores, por diversos motivos – principalmente pelo fato de que só podíamos gravar durante o verão, e acabávamos não conseguindo nos preparar antes da gravação de fato. Agora nós temos o nosso próprio estúdio, o que permite uma pré-produção aonde podemos ouvir e digerir cada faixa antes de estabelecer a versão final, experimentando novas possibilidades. Durante esse processo, eu fiz várias versões de cada música, até estarmos satisfeitos.

Progcast: A música presente em Ænigma soa como um perfeito balanço entre praticamente tudo que o In Vain já fez: black metal, death metal, folk e progressivo, com um approach épico. Vocês consideram esse modelo algo a ser seguido nos próximos álbuns, ou sempre haverá espaço para novos experimentos musicais?

Johnar: In Vain já criou uma vasta e única personalidade musical para experimentar. Não acredito que tenhamos alguma necessidade de olhar para muito longe, e podemos continuar trilhando esse caminho por anos.

Stig: De uma forma ou de outra, eu acho que sempre haverá espaço para novas experimentações. Acima de qualquer coisa, estaremos sempre tentando fazer um álbum que agrade a nós mesmos. Tentamos várias coisas diferentes, se gostamos, usamos, se não gostamos, jogamos fora. Sempre estamos abertos para novas coisas e penso que é algo que os fãs apreciam.

Progcast: Lars Nedland e Cornelius Jakhelln participaram de Ænigma, e o In Vain excursiona com o Solefald este ano, certo? Falem-nos um pouco sobre essa colaboração.

Stig: Bem,considerando que ambas as bandas são da mesma cidade, e o nosso vocalista/tecladista Sindre é o irmão mais novo do Lazare, nós acabamos criando esta conexão há um bom tempo, eu diria. Em 2011, Johnar conversou com o Cornelius e basicamente disse para ele voltar para a porra dos palcos antes de ficar muito velho, e sugeriu que o In Vain fosse a banda de suporte ao vivo para a dupla. As coisas começaram a acontecer, eles participaram do nosso álbum, e agora nós acabamos de retornar de uma turnê europeia, aonde tocamos dois shows por noite, tanto como In Vain, quanto como Solefald.

Progcast: Voltando ao Ænigma, como está sendo a recepção da crítica e do público até agora? Até onde sabemos, vem recebendo respostas muito positivas por todo o mundo. Existe alguma chance de lançá-lo fora da Europa?

Stig: Nós realmente temos recebidos ótimas resenhas até o momento, as pessoas parecem estar gostando. Não sabemos de lançamentos em outros países, por enquanto, mas com certeza seria algo que gostaríamos – quem realmente quer o disco, acaba tendo que pagar muito mais caro.

Johnar: Nós temos conversado sobre lançá-lo nos Estados Unidos, mas o nosso selo apenas faz isso quando a banda excursiona pelo país. E realmente não faria muito sentido se isso não estiver ocorrendo. As gravadoras realmente não tem mais ganhado muito dinheiro com isso.

Progcast: Mas haverá uma turnê após estes shows com o Solefald?

Stig: Sim, temos várias apresentações agendadas para esse verão. Estamos tentando tocar o máximo que pudermos.

Progcast: Muito obrigado pelo tempo de vocês! O In Vain realmente se mostrou um dos grandes destaques da música extrema nos últimos anos, e Ænigma é de fato um dos grandes álbuns de 2013. Gostariam de deixar uma mensagem para os seus fãs brasileiros e aqueles que ainda não os conhecem?

Johnar: Para todos os nossos fãs brasileiros: muito obrigado pelo apoio! Confiram Ænigma se vocês ainda não ouviram, e visitem a nossa página no Facebook para receberem as últimas notícias e atualizações. Esperamos algum dia fazer um helluva show sob o sol brasileiro! Saúde!

Leia aqui a resenha sobre o mais recente álbum do In Vain

Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

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