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Coheed and Cambria – “The Afterman: Descension”


Uma das mais interessantes bandas da última década, o Coheed and Cambria é liderado pelo vocalista / guitarrista / escritor Claudio Sanchez, e adquiriu considerável reconhecimento no Brasil depois de participar (ainda que timidamente) da última edição do Rock In Rio, em 2011.

Em 2012, os americanos deram início ao novo capítulo dos seus discos conceituais, denominado The  Afterman, novamente baseado nas The Amory Wars, a história escrita por Sanchez que serve como pilar para todos os trabalhos da banda. Centrada no personagem Sirius Amory, é dividida em duas partes, que foram gravadas simultaneamente entre novembro de 2011 e junho de 2012, sendo que Ascension figurou em diversas listas de melhores álbuns do ano passado.

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Lançado em cinco de fevereiro, Descension é a derradeira parte dessa história, e vem recebendo elogiadas críticas ao redor do mundo. A versão deluxe do álbum acompanha um livro de mesa, escrito por Claudio Sanchez e Peter David, com textos e ilustrações que servem como uma espécie de guia para quem ouve o disco.

Soando um tanto enigmática, Pretelethal se encaixa perfeitamente tanto como introdução para a conclusão de The Afterman quanto como o elo de ligação entre as duas partes, cumprindo o seu papel de afogar novamente o ouvinte na atmosfera e conceito do álbum. Principalmente porque Key Entity Extraction V: Sentry The Defiant não é exatamente um início de álbum dos mais palatáveis, a princípio, pois alterna bruscamente entre grooves e melodias que lembram vagamente os melhores momentos do Tool e passagens arrastadas, com Sanchez despejando incansavelmente os versos, interpretando muito bem o personagem da história, que acaba de despertar de uma espécie de revelação. Se isso é ruim? Não, nem um pouco. Porém, é preciso estar em sintonia com a sonoridade e preparado para o que está por vir.

Com a frase “Sirius, do you still want to go home?”, a faixa The Hard Sell mostra um lado mais raivoso da banda (um contraponto bem interessante com as vozes soltas no fundo), com diversos momentos dos mais intrincados e aquele típico refrão que insiste em permanecer horas na sua mente, assim como Number City, que traz uma parafernália de efeitos eletrônicos, em um andamento inusitado que torna impossível não se sentir no meio de um cenário altamente iluminado, com fortes luzes de diversas cores e visualmente caótico.

Gravity’s Union retoma o clima um pouco mais soturno, e mesmo com uma acentuada complexidade rítmica, evolui naturalmente ao longo da história sendo contada e resulta em um dos momentos mais inspirados e empolgantes do disco. Apesar do clima de encerramento, Away We Go é uma daquelas mezzo baladas características da banda, alternando entre o pop, o rock alternativo e o AOR nos quase quatro minutos que levam à interessante Iron Fist, mais um momento bem tranquilo do álbum, que equilibra passagens acústicas com efeitos eletrônicos, bem agradável de se ouvir.

As duas faixas anteriores podem chegar a soar um tanto quanto fora de contexto, mas ao compreender o conceito lírico, é possível captar que, assim como o personagem, instrumentalmente o clima do álbum vai descendo gradativamente. Esse fato se evidencia na belíssima balada (com forte apelo radiofônico – e novamente, isso não é um ponto negativo) Dark Side Of Me e no encerramento 2’s My Favorite 1, com a sua atmosfera muito bem construída, que se não é exatamente épica, serve como a base perfeita para a letra extremamente descritiva, e mesmo um tanto quanto trágica, se assemelha em muito ao final de um filme.

Em um balanço geral, The Afterman: Descension apresenta um Coheed and Cambria bem mais agressivo, flertando em diversos momentos com o hard rock setentista, ao mesmo tempo que agrega elementos mais modernos ao seu complexo e intrincado rock alternativo com tendências progressivas. Eles acertam ao seguir a trama de Sirius Amory também com relação às passagens instrumentais, funcionando como o palco para as interpretações de Claudio Sanchez. Porém, ao compararmos com a primeira parte dessa minissérie, as nove faixas soam, em alguns momentos, meio desconexas entre si, e exigem audições repetidas para entrar de forma definitiva na proposta do álbum. As letras, mais simples e compreensíveis (ainda mais se comparadas com as dos primeiros discos) parecem ter menos força e impacto do que em The Afterman: Ascension, aonde eram construídas uma sucessão de melodias instantaneamente reconhecíveis, sem abrir mão da identidade musical em nenhum momento.

É sim um bom disco, que mantém praticamente intacta as características do Coheed and Cambria, e mesmo com algumas oscilações é uma interessante experiência, principalmente ao ser apreciada juntamente com a primeira parte e compreendendo todo a história de Sirius Amory.

The Afterman: Descension Coheed and Cambria

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Tracklist

01. Pretelethal
02. Key Entity Extraction V: Sentry the Defiant
03. The Hard Sell
04. Number City
05. Gravity's Union
06. Away We Go
07. Iron Fist
08. Dark Side of Me
09. 2's My Favorite 1

Lineup

Claudio Sanchez – vocal / guitarra
Travis Stever – guitarra
Josh Eppard – bateria / teclado
Zach Cooper – baixo
Rroio

Viking oriental colecionador de discos, músico frustrado e um eterno incansável explorador dos mais obscuros confins do mundo da música.

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